A arte em crise ou crise de valores?


Há poucos meses, a mídia divulgava uma notícia que dividiu a opinião pública e causou polêmica entre artistas, pensadores, críticos, advogados e o Judiciário. Tratava-se da prisão de uma jovem, que acostumada ao hábito da pixação, prevista como crime em nosso instituto penal, depredou as paredes do MASP como forma de protestar a ausência da arte na Bienal de São Paulo.

Ao considerar a pixação uma expressão da arte diferente do grafite, a jovem nos proporcionou uma reflexão que está além da legalidade ou ilegalidade do ato, onde quase duelam o senso comum e o crítico, ambos mitigados numa crise de valores.

A crise da arte na modernidade, não advém da inexistência de idéias, da criação ou dos meios necessários à amplificação do novo. O tempo – interregno da história - produz em cada uma das suas frações, pessoas capazes de surpreender com a luz altiva dos seus gênios.

Na arte como na vida, haverá quem transcenda aos padrões e rompa com o inatismo dos homens, acrescentando ao meio, um elemento necessário e reformista. É cíclico que uma voz entre as demais zombe do silêncio e proponha ao conformismo o surgimento de um novo conceito estético-artístico e, sem qualquer pretensão, defenda a derrubada do preconceito em não admiti-lo.

Mas nos tempos modernos, a crise que se presencia não tem origem na ausência do poder inventivo - haverá sempre quem crie em qualquer geração. A subversão de valores é o que responde, diretamente, pela sensação do vazio e sua existência na literatura, na arte, na música, dramaturgia e demais vertentes.

Vivemos em tempos de ovação ao genérico, ao paliativo, a o que substitui o essencial e sua tão famigerada demanda. Produtos de uma equação político-econômica que menospreza o bom conteúdo, se cara for sua forma de exposição, dificilmente questionamos a qualidade servida nos livros, telas, músicas, exposições e etc.

Programados a reagir pelo instinto, em nossa modernidade formamos uma sociedade induzida a não sofrer a reflexão do belo e sua ausência, do homem e sua essência, do bem e sua consciência.

Recebemos o que não é necessário codificar: a tradução de uma idéia pode romper com o processo de conformação e custa caro preparar a massa para dar resultados em longo prazo. Esta idéia resume a nossa crise. Não a ausência do novo, do inquietante lume do pensamento e da criação. E mesmo em meio a uma crise de valores, existem aqueles cuja exigência compromete-se em superar a insuficiência para romper com status quo.

A jovem e sua pixação, certamente não atendem à arte em relação ao seu apelo estético, mas ambas resumem nossa necessidade de boa arte para o livre acesso.

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