A reforma ética - algo necessário na política – está confiscada pela sociedade, na medida em que é negada pela conduta humana, sintomaticamente viciada a um paradigma ofensivo, por ser, na maioria dos casos, assentada numa forma suja de entendimento do que é ser político ostentando o espírito de abutre.
Longe de alcançar uma dinâmica salutar, esta mesma sociedade acostumada à decadência de procedimento, preenche os partidos, criando para as instituições do poder um ambiente desfavorável à essência das leis, da justiça, do discernimento e das igualdades e liberdades em amplo sentido. Comprometida a práxi, que noção equivocada nasce então para a democracia?
A responsabilidade despontada pela política partidária – o veículo soberano do ofício político – assim adoece, pois se não está confinada a algum tipo de dogma é vítima dos canalhas e dos seus adeptos.
Manietada por pessoas de um mau caráter exemplar, a ausência de valores cria um estado coletivo, que por maldade e medo não admite qualquer concepção contrária ao padrão de comportamento, onde serão vistos como ameaçadores os que se valem de orientações pautadas na ética como um imperativo categórico.
Tem sido assim desde os tempos de Sócrates: quem desconhece o trágico fim do filósofo condenado à cicuta por ameaçar não o império, mas a mentira e a egolatria do poder? Por isso, os vilões criam os mártires, pessoas cuja humanidade não difere dos demais, senão no modo de exercerem as mesmas atividades sem manchar o caráter em atitudes depreciáveis e mesquinhas. Temperamento de régulas, o único senso coletivo de que se valem é o de criar consenso para devorar quem lhes desguarnece o âmago de honra pouca, aprisionado à ode da mediocridade.
Por privação de qualidade, desempenham um único papel primordial: o de imprimirem na história a diferença entre os homens de via fácil e os que alçaram as vias evolutivas. Em caminhos opostos distinguem os vermes dos libertários.
Plagiando José Lins: “vem por aqui dizem alguns, certos de que seria bom se outros os ouvissem quando dizem vem, vem por aqui”. E como o átomo a mais que se animou, a maestria é essa, existirem os que dizem “não, não vou por aí”: homens que preferem seguir por onde lhes guiam os seus próprios passos, a circular nas veias dos vossos guetos lamacentos.
Caríssima: "Vem por aqui, dizem-me alguns com olhos doces Estendendo-me os braços e seguros de que seria bom que os ouvisse, quando me dizem, Vem por aqui..." Não é de José Lins (se este usou o poema sem indicar o autor, o plágio não é seu). Antes, de José Régio. O poema, "Cântico Negro", um momento único de inspiração. Fica a nota. O seu blog é uma inspiração. Parabéns.
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